Um olhar (Luis Barcelos/Aluizio Elias)
com Marcos Sacramento

Olhos meus…
Sombra e luz
Vela e véu

Olhos meus…
Credo e cruz
Terra e céu

Um vê Deus
O outro, ateu, serve ao Mal

Camafeus
Se um orbita a sorte
O outro habita a morte
Água e sal
Nos olhos meus…
Mar bravio
Nau em paz

Olhos meus…
Chuva e estio
Calado fez-se um. O outro, loquaz
Se o vidente ou o cego, um par
Tese e antítese no olhar
Porque dois são um

Olhos meus…
Gozo e dor
Pedra e pão
Olhos meus…
Ódio e amor
Peixe e arpão
Um vê Deus
O outro não, mas quer ver
Reis, plebeus…

Que tão bem-nascidos
Que também feridos
Corpo e ser

Nos olhos meus…
Há o fiel
Há o pagão

Olhos meus…
Vinho e fel

Oh, trave
que os maus olhos não verão!
Réu ou redimido, um par
Chaga e chama no olhar
Porque dois são um

Quero ver
Desde o vão da calma
Ver como os olhos podem ser
Quando veem com a alma
Para além de escolhos
Ver do ventre de uma oração
Como brilha um coração
Quando guia os olhos

Margem do caminho
Deixo a capa e a escuridão
E avanço sozinho
Cego em meio à multidão
Cego-e-meio. Eu vendo
E o olhar
tateando o meio e a voz
Tonteando. E um medo atroz
Mas meus olhos crendo

Olhos meus…
Revolver
Revelar

Olhos meus…
Pertencer
Perdoar

E é de Deus
Não matar; diz a Lei
Bartimeus
Toda dor fenece
Quando o amor floresce
Sim, verei

Nos olhos meus…
Um festim
Um altar
Olhos meus…
Astro em mim
Candeia:
como a solidão solar
Ou o ciclópico lunar
Lua e sol no mesmo olhar
Porque dois são um

 

Luis Barcelos [Arranjo e Bandolim 10 cordas] | Glauber Seixas [Violão 7 cordas] | Guto Wirtti [Contrabaixo acústico] | Kiko Horta [Acordeon]

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